sábado, 15 de dezembro de 2012

Crítica - O Hobbit – Uma Jornada Inesperada

Cristiano Almeida

Há pouco mais de uma década presenciamos uma das trilogias mais bem sucedidas da história, aclamada pela crítica e público, e ganhadora de 17 Oscars. Tratava-se da adaptação do livro O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, pelas mãos do cineasta Peter Jackson, que modificou a visão que se tinha dos filmes de fantasia e deixou o público com um gostinho de quero mais. Com isso, o diretor retornou à Terra-média, e em O Hobbit – Uma Jornada Inesperada (The Hobbit - An Unexpected Journey) – primeiro filme de uma nova trilogia – adapta o livro O Hobbit para narrar os eventos que antecedem as batalhas pelo anel do poder.

Jackson opta por, além de apresentar novos atores (como os intérpretes dos anões) e do próprio hobbit, trazer de volta rostos conhecidos como Ian McKellen (Gandalf), Cate Blanchett (Galadriel), Hugo Weaving (Elrond), Christopher Lee (Saruman), Andy Serkis (Gollum) e Elijah Wood (Frodo), que faz apenas uma ponta, mas com grande importância na ligação com a trilogia anterior. Com essa decisão, o diretor consegue manter aquela relação de identificação do público, que enxerga tais atores como perfeitos para o papel.

A presença desses personagens gira em torno do principal deles - o hobbit Bilbo Bolseiro - interpretado agora por Martin Freeman. Bilbo vivia tranquilo em sua toca, quando é surpreendido pela visita de Gandalf e 13 anões. Eles querem recrutá-lo para uma aventura, na qual tentarão reaver a região de Erebor, que outrora pertenceu aos antepassados dos anões, mas foi tomada pelo dragão Smaug. O hobbit reluta, porém aceita partir na jornada inesperada.

O roteiro segue a ordem narrativa do livro, mas na direção de Peter Jackson são tomadas liberdades criativas para tornar o texto mais coerente com a linguagem cinematográfica. Assim, são eliminados alguns momentos mais lentos da obra original para dar espaço a flashbacks e cenas de batalha. Os personagens também são melhor trabalhados e tornam a produção mais adulta (Tolkien escreveu o livro para os filhos).

A partir de tais acréscimos, que se tornam mais eficazes na montagem do filme, duas sequências merecem destaque: a primeira relata a queda de Erebor pelo ataque de Smaug e apresenta os antepassados da raça dos anões, especialmente os de Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage); a outra inclui o personagem Radagast, o Castanho (Sylvester McCoy) – um dos cinco magos – que não aparece no livro, mas que, dentro do contexto, é utilizado no longa de forma adequada e muito importante para os futuros acontecimentos da aventura.

Além de um roteiro bem amarrado, o filme tem um apuro técnico que impressiona. A fotografia que capta a Terra-média é fantástica, apostando em grandes planos aéreos para caracterizar a dimensão da aventura. Ela fica ainda melhor no IMAX 3D de 48 quadros por segundo. O nível de detalhe dos elementos e o uso da terceira dimensão na profundidade de determinadas cenas tornam a experiência marcante, fazendo o espectador se sentir como parte da produção e não apenas alguém que assiste elementos sendo jogados gratuitamente na tela.

A direção de arte segue o padrão visto em O Senhor dos Anéis, usufruindo das paisagens naturais da Nova Zelândia e inserindo cenários artificiais para compor a ambientação. Com isso, em O Hobbit temos mais detalhes da toca de Bilbo, de Valfenda e do ninho das águias. Em meio a esse cenário, a caracterização dos personagens é digna de premiação pelo ótimo trabalho de maquiagem, onde se destacam os anões e Azog, orc responsável pela morte de Thror, o avô de Thorin.

Todos os elementos citados contribuem para a composição de ótimas cenas de batalha, sendo a melhor delas a que reúne os anões e Gandalf contra os orcs e o líder deles, o Grão-Orc. Paralelamente a essa sequência, Bilbo surge em um dos momentos mais marcantes do livro. As cenas têm o acompanhamento da trilha sonora de Howard Shore, que repete alguns temas da trilogia anterior, mas sabe empregar músicas inéditas nas várias situações, que incluem as lutas, suspense e drama.

Ao final, a produção mantém a opção das anteriores de terminar em aberto para dar continuidade no filme seguinte. Sendo assim, neste primeiro longa, são abordados menos da metade dos dezenove capítulos do livro. O Hobbit termina com uma jornada inesperada para Bilbo, mas muito aguardada pelos fãs, que, além da adaptação, poderão encontrar referências da trilogia O Senhor dos Anéis e seus apêndices, e, para os mais atentos, até de O Silmarillion.

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